O cientista e filósofo Mario Bunge descreveu a célebre frase “a pseudociência é sempre perigosa porque ameaça a vida”. Por definição, a pseudociência é um conjunto de teorias e afirmações com aparência científica, mas sem embasamentos e que não usam métodos rigorosos de pesquisa. Na área da nutrição, infelizmente esta prática é muito comum. Quem já não ouviu falar em “dieta detox” ou “água com limão em jejum”?
A obesidade e as doenças decorrentes do excesso de gordura corporal aumentaram drasticamente. Dados do Ministério da Saúde apontam que 55,7% dos brasileiros têm excesso de peso e, em contrapartida, o padrão de beleza imposto pela mídia aumentou o número de pessoas com vigorexia (insatisfação constante com o corpo) e ortorexia (obsessão por comer saudável). Este cenário é perfeito para a difusão de informações sobre alimentação saudável e o surgimento de dietas da moda sem comprovação científica, mas com promessas para curar doenças, deixar o corpo em forma e aumentar a longevidade. Essas informações sempre são vinculadas com algum estudo ou usando o nome de uma grande instituição, como Harvard, USP, NASA, dentre outras.
Um grande exemplo é a “dieta detox”. Em 2015 foi publicado um estudo que no título contém a seguinte informação: a dieta de desintoxicação do limão reduz a gordura corporal e a resistência à insulina. Os cientistas estudaram 84 coreanas na pré-menopausa e, ao final de 11 dias, o peso corporal, o percentual de gordura e a resistência à insulina foram reduzidos no grupo que ingeriu água com limão em jejum. Pronto! Um prato cheio para dietas restritas com calorias. Pronto! Um prato cheio para água com limão virar o maior milagre de todos os tempos. Porém, quando observamos alguns detalhes, percebemos alguns pontos a serem considerados: 11 dias é tempo suficiente para se avaliar uma intervenção desse tipo? O que funcionou foi o limão ou a dieta com calorias muito baixas? Outra pergunta: apenas coreanas e mulheres com sobrepeso na pré-menopausa (vale para todos?). Ah, se eu quiser usar um título para causar encanto, vou abaixar outra fruta crítica? Porém, o ponto mais relevante ainda está por vir. A conclusão do estudo (sim, é muito importante ler o artigo na íntegra) é bem claro: “sugere-se que o programa de desintoxicação do limão reduza a resistência à gordura corporal e à insulina por meio de restrição calórica”. Suposição não é certeza (mesmo sabendo que certeza na área de saúde é perigosa), não foi avaliado o que realmente causou os efeitos observados: o “suco detox” de limão ou a restrição calórica.
Água com limão não emagrece, não alcaliniza o sangue e não desintoxica. O limão é uma ótima fruta, mas não faz milagre. Assim como exemplifiquei o limão, poderia citar outros modismos pautados na pseudociência, como “leite e glúten fazem mal”, “carboidrato engorda” e outras mentiras que viralizaram. Sobre em quais informações acreditar no que diz respeito a alimentos e dietas que fazem bem ou mal e o que de fato funciona, sempre verifique a fonte original da informação. Para finalizar, deixo aqui a receita do “milagre”: tenha uma alimentação saudável, hidrate-se adequadamente, faça exercícios físicos com regularidade, durma bem, exercite sua mente, tenha cuidado com a exposição inadequada ao sol e faça periodicamente seu check-up. Procure profissionais habilitados para a prescrição de dietas (nutricionistas), exercício físico (profissionais de educação física) e médicos (cada um na sua especialidade) para avaliações e tratamentos. Cuidado com dietas restritivas, excesso de exercício e não faça automedicação. Parece que eu falei o simples, correto? Talvez seja por um motivo óbvio: o simples funciona! Vamos tentar?
Dr. Elton Bicalho de Souza
Nutricionista (CRN4 – 08101052)
Especialista em Nutrição Clínica e Nutrição Esportiva
Pós-Graduando em Nutrição Aplicada ao Emagrecimento e Longevidade