O envelhecimento populacional é um fato inquestionável, sobretudo no nosso país, onde observamos um aumento na expectativa de vida em quase 20 anos nas últimas décadas. Estimativas bem estabelecidas projetam que o número de idosos até 2025 será superior a 30 milhões, e a velhice tanto poderá ser acompanhada por altos níveis de doenças crônicas, quanto por saúde e bem-estar, em muito dependendo de hábitos de vida adotados desde jovens. Essa projeção, colocará o Brasil, em 2025, como a sexta maior população de idosos do mundo, em números absolutos. Diante dessa afirmação, se faz necessário melhorar as condições de vida, principalmente nos países emergentes, como o Brasil, para possibilitar uma boa qualidade de vida aos idosos em sua velhice, o que tem aumentado a consciência de quem está em curso do processo de envelhecimento e dos profissionais de saúde que trabalham com pessoas nessa faixa etária.
Na literatura gerontológica, envelhecer é considerado um evento progressivo e multifatorial, e a velhice é uma experiência potencialmente bem-sucedida, porém, heterogênea, e vivenciada com maior ou menor qualidade de vida. Já na política de desenvolvimento ativo, proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005), é enfatizado que envelhecer bem não é apenas responsabilidade do indivíduo e, sim, um processo que deve ser respaldado por políticas públicas e por iniciativas sociais e de saúde ao longo do curso da vida. A princípio, a criação dessa política parte do pressuposto de que, para se envelhecer de forma saudável, é fundamental aumentar as oportunidades para que os indivíduos possam optar por um estilo de vida mais adequado, que inclui mudanças de hábitos alimentares e atividade física regular e, consequentemente, o controle da saúde física e psicológica. Assim, a definição de envelhecimento ativo é apresentada como a “otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.
O conceito de qualidade de vida relaciona-se à autoestima e ao bem-estar pessoal e abrange uma grande gama de aspectos, tais como: capacidade funcional, nível socioeconômico, estado emocional, interação social, atividade intelectual, autocuidado, suporte familiar, estado de saúde, valores culturais, éticos e religiosidade, estilo de vida, satisfação com o emprego e/ou com as atividades da vida diária e com o ambiente em que se vive.
Compreender o envelhecimento como um processo sociovital multifacetado e se conscientizar de que se trata de um fenômeno irreversível é de suma importância para que todos (profissionais da saúde, governo, sociedade em geral e os próprios idosos) vejam a velhice não como finitude, mas como um momento do ciclo da vida que requer cuidados específicos, o qual pode e deve ser desfrutado com qualidade.
Envelhecer não deve significar, necessariamente, um declínio ou perda das funções cognitivas e corporais, e não pode ser identificado como um sinônimo de doença. Alguns idosos conseguem manter sua saúde e funcionalidade, e muitas vezes essa manutenção se faz por uma série de medidas voltadas para cuidados com as patologias preexistentes, adoção de hábitos alimentares saudáveis, regularidade de atividades físicas e adaptações (clínicas e sócio-emocionais) às modificações que o próprio processo de envelhecer nos oferece. Assim, primar pela qualidade de vida na terceira idade encontra-se intimamente relacionada com a autoestima e o bem-estar pessoal do idoso, o que abrange um conjunto de aspectos que coexistem com a necessidade de pensar em modos de proporcionar qualidade de vida, mesmo diante das mudanças pelas quais os idosos enfrentam nos contextos em que vivem.
Renato de Carvalho e Silva Braz
Médico Geriatra
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